Pequenita! Entenda como a baiana de Pilão Arcado virou imortal

                                    

Maria do Socorro Dias Santos, imortalizada pelo Documentário São Francisco produzido pela Jornalista Nardia Bochi faleceu no último dia (21/06) aos 83 anos. PEQUENITA ganhou destaque nacional falando ao mundo direto das ruinas de Pilão Arcado na Bahia. Pequenita era uma lenda real. O Museu da Pessoa no Estado de São Paulo, imortalizou Dona Pequenita! Eis o painel com a sua fala aprovada numa Assembleia Geral Extraordinária de 2019.

Ela atrapalhou muito essa tal de barragem. Ninguém queria sair daqui não. Eu queria ficar mesmo no meu Pilão Velho... só quem tira água daqui é Deus! Eles sabem fazer barragem, mas não água.  Quem sabe fazer água é Deus! (Fala de Pequenita em um Painel do Museu da Pessoa em SP).

O texto retrata a contrariedade de Pequenita em relação à transferência da Sede de Pilão Arcado, por força da construção da Barragem de Sobradinho, que se concluiu entre 1974 a 1978. Pequenita jamais acreditou em inundação total da velha cidade de Pilão Arcado, o que de fato, não aconteceu.  

Pequenita não sabia, mas ali começava de forma silenciosa uma luta de argumentos. Era positiva a transferência de Pilão Arcado para uma nova sede? Daria certo aquela mudança? Ela mesma, Dona Pequenita deu a sua versão. Mesmo sem ser engenheira, ela respondia com convicções  fortes.

“Não ia inundar. Mas eles meteram a mão e derrubaram tudo! Eu fui, mas logo voltei e daqui não saí mais” Disse a moradora em uma gravação concedida ao Museu da Pessoa.

Pequenita passaria seus anos restantes respondendo a mesma pergunta. Suas previsões foram se cumprindo e virando filme. A Rede Globo de Televisão replicou a trajetória de Maria do Socorro Dias Santos em quase todos seus programas, com destaque na Globoplay e no Mais Você de Ana Maria Braga. Uma mulher que já não era mais só de Pilão Arcado, ela agora era do Brasil e estava presente em muitas plataformas de cultura e histórias como símbolo da resistência.

A lendária pequenita levou a marca de Pilão Arcado de um jeito simples muito mais longe do que se possa imaginar. Canais de televisão como a Rede Globo e Record visitaram a pilãoarcadense em mais de uma ocasião para colher dela não só as informações da antiga cidade, mas o seu lado profético e cultural.

A moradora deu a Pilão Arcado um relato que ficará guardado na memória de seus familiares, amigos e principalmente do Brasil, quer seja: mesmo sem o uso de tecnologias e vivendo em uma casa simples seu nome ocupa espaços na história da cidade agora e para sempre.

Pequenita partiu, segundo seus familiares ela passou mau e avisou. Chegou a minha hora de me encontrar com Deus. Faleceu em sua casa na antiga Sede de Pilão Arcado onde sempre viveu desde quando nasceu. Seu corpo foi sepultado no Cemitério da nova cidade de Pilão Arcado sob aplausos de centenas de moradores e amigos da família.

Autoridades que acompanhavam o cortejo chegaram a me falar da necessidade de se reconhecer Dona Pequenita como Patrimônio de Pilão Arcado. A Professora Railda Lacerda Rocha disse: Estamos enlutados, ninguém levou o nome da nossa cidade tão longe como fez Pequenita.

Pequenita teve 8 filhos, Ana Lúcia In-memóriam. Os demais, todos vivos e na cidade. Ela era filha de Ana Francisca Dias e de João Gualberto Dias, ambos do Distrito de Brejo do Zacarias, zona Rural de Pilão Arcado.

Pilão Arcado despede-se, de uma ilustre cidadã que se recusou a viver a mordomia da tecnologia para manter-se próxima da velha cidade, onde a sua vida foi compartilhada com o Brasil e com o mundo direto das margens do Rio São Francisco.

                                                                                                                    Por Redovagno Ribeiro