Pilão Arcado não é mais um bebê. Desde 1810 seu território
ainda pouco explorado contrasta com uma vasta identidade histórica que preenche
a sua vida já bem adulta. De uma forma, eu diria, rítmica. Rítmica porque ao
longo dos seus 214 anos dança conforme a sua identidade esquece-se de bater
forte em seus tambores.
Bem antes de ser rebatizado era Vila da Nossa Senhora do
Remanso de Pilão Arcado. Como se tudo virasse um filme em seu segundo
lançamento, uma ação pública do Estado inaugurou seu primeiro teatro, logo, a
sua história se repete para o nominar de Teatro Vila de Pilão Arcado.
A astronomia popular desempenhou e ainda desempenha um
papel central em práticas que vão do plantio à celebração de festas religiosas,
construindo um vínculo entre a cidade e seu povo. O município tem um vasto
calendário que anima sua população e marca a sua identidade.
No Brejo da Serra, foi encontrada uma imagem de uma Santa
deitada embaixo de um Juazeiro. Ela recebeu o nome de Nossa Senhora de
Conceição de Aparecida de Pilão Arcado. A Santa seria a única sobrevivente do
incêndio que destruiu a antiga Igreja da região. Todos os anos acontecem a
peregrinação que vai de 1º a 15 de agosto.
Campo Grande foi “polo” religioso e estudantil. Claro que
tudo era simples. A faculdade de Dona Constância era feita de taipa. Constância
era uma mulher de origem indígena que conviveu em Campo Grande, próximo da Sede
de Pilão Arcado. Constância tinha lá as suas formas e modos de viver, o mais
forte era ser teimosa e valentuada. A sua ideia e planos tinham que prevalecer sobre qualquer outro. Constância
não tinha boa relação com as pessoas comuns da região. Só depois de muitos anos
seu relacionamento melhorou e ela passou a entender a vizinhança.
A casa foi construída com estrutura de taipa para abrigar
as pessoas que vinham trabalhar na derruba de roças e na abertura de tanques.
Com a chegada de mais pessoas foram aos poucos ampliando a casa onde chegou a
residir muitas famílias. Ali tinha também o núcleo estudantil. A essa casa,
deram o nome de Casa Grande
Embora a astronomia popular seja vista muitas vezes como
algo folclórico, ela guarda recursos valiosos com a ciência moderna. Estudos
mostram que os sertanejos de Pilão Arcado fornecem identificação de padrões
climáticos ao observar o céu, como a intensidade das chuvas previstas pela
nebulosidade ou brilho das estrelas. A flor do mandacaru por exemplo avisa que
as chuvas estão próximas. Esse conhecimento tradicional tem potencial para
dialogar com iniciativas de meteorologia e agricultura sustentável, contribuindo
para soluções adaptadas à realidade do semiárido.
O Projeto Infra Brejos por mim escrito a pedido da
Prefeitura Municipal é uma iniciativa abrangente para melhorar a infraestrutura
e o desenvolvimento sustentável das comunidades localizadas nos Brejos de Dois Irmãos, Brejo da Serra e
Brejos do Zacarias, todos eles ladeados por várias comunidades que juntas
formam uma região ecologicamente rica e diversa.
As nascentes que jorram e as dunas do Brejo do Zacarias são
partes mais emblemáticas desse sistema turístico, religioso e rico em minerais
como o sal e uma imensa quantidade de frutas.
A região compunha um dos Distritos do Município de Pilão
Arcado, e vivem exclusivamente da agricultura em regime de subsistência. Cada
Brejo tem as suas peculiaridades e riquezas.
Brejo Dois Irmão,
é um tipo de entroncamento viário entre Pilão Arcado e a cidade de Barra,
Bahia. Se destaca pela fabricação industrializada de doces, licores, rapaduras,
cachaça e frutas nativas. Possui uma alta produção do buriti que é industrializado
em fábrica da comunidade, através de órgãos estaduais baianos
Brejo da Serra se
destaca pela fabricação da melhor rapadura da região e um alto número de frutas
nativas como a manga, o caju, buriti, mangaba, o coco entre outras.
Brejo do Zacarias
é macro na produção de cachaça artesanal, frutas, doces, e possui uma área
turística que desperta a curiosidade de visitantes e até de outras cidades e
países no mundo inteiro. É um lugar rico em nascentes, espécies nativas como
animais silvestres, plantas, frutas, comunidades tradicionais, blocos de
trabalhadores e associações que se autoproclamam comunidades mais ricas em
produtos naturais do município.
O coronelismo em Pilão Arcado foi outro momento marcante da
cidade. A trilha sonora desse filme real pode ser embalada pelas letras de
poder e tradições no sertão. O município de Pilão Arcado, localizado no coração
do semiárido baiano, carrega uma história marcada por práticas de coronelismo,
um sistema político que consolidou o poder local nas mãos de poucos durante o
período republicano brasileiro. Com suas raízes firmemente plantadas na economia
rural e nas relações de dependência, o coronelismo em Pilão Arcado revela como
as elites locais controlavam não apenas os recursos econômicos, mas também os
aspectos sociais e culturais da comunidade
Em seu contexto histórico e político, Pilão Arcado sempre
traz desafios impostos pelo clima e pela geografia. No entanto, essas mesmas
condições realizaram um ambiente fértil para a centralização do poder ancoradas
em figuras de liderança locais conhecidas como coronéis. Essas lideranças não
eram apenas proprietárias de vastas terras, mas também mediadoras políticas e
sociais, desempenhando papéis essenciais em um ambiente carente de estrutura
estatal
O coronelismo em Pilão Arcado seguia o modelo típico do
sistema encontrado em todo Nordeste brasileiro. A posse de terras férteis ou
estratégicas próximas a rios como o São Francisco conferia aos coronéis o
domínio sobre a economia local. Ali eles decidiam quem poderia plantar, colher
ou viver em suas propriedades. O controle político foi consolidado por meio de
práticas como o voto de cabresto, em que os trabalhadores rurais votavam sob
coerção ou influência direta dos coronéis da época.
O bebê já de cabelos grisalhos já não é mais o mesmo. Em
2015 publicamos o artigo Retrocessos que não impediram nossos avanços políticos
e sociais. Nele, refuta-se a ideia de um município que só conheceu um lado da
sua história, que foi a coronelista para aventar-se sobre seus avanços
democráticos. A Lei da Mordaça esculpida no artigo, colore um outro momento da
cidade, logo, a partir dali a ponte fechando ciclos, abrindo horizontes começou
a ser erguida.
Cercado pelo cinturão formado pelas cidades de Campo Alegre
de Lourdes, Remanso, Barra do Rio Grande e Xique-Xique, Pilão Arcado tem
posição geográfica privilegiado que desperta investidores, antes, porém,
carece-se de um projeto pensado em levar a cidade ao futuro. Uma iniciativa
ambiciosa que pode abordar uma ampla variedade de áreas, desde sustentabilidade
e tecnologia até infraestrutura urbana e qualidade de vida.
Os tambores desse samba, são ainda bem surdos. No samba que
se remelexe em Pilão Arcado, falta um
verso importante. Sair da roda e pular
no carnaval das alegorias técnicas e econômicas. Seu Rei “Momo” Dom Lencastre,
fez a cidade nascer, agora, ela precisa crescer em outras avenidas.
Esse texto é rico em histórias
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