segunda-feira, 20 de março de 2023

Eu, a tragédia e o pessimismo! O décimo círculo de Dante

 

                                            Cesar Teixeira - Pilão Arcado - Bahia


Quando o sofrimento parecia findo

Que o paraíso estivesse logo adiante

Na verdade abriu-se um novo gênesis

E o décimo círculo não sabido o porvir


Tudo que era sólido e firme outrora

Foi pulverizado e caiu por terra

Tal qual castelo de areia numa praia

Que se desmancha ao beijo do mar

 

A ilusória alegria que eu então trazia

Por ser construída sobre a frágil areia

Ruiu como castelo que sucumbe à vaga

Deixando no seu lugar amarga tristeza

 

E essa tristeza que agora não me larga

Sinto ela queimando-me por dentro

E nesse maluco paradoxo do sofrer

Sou o prisioneiro e também o cárcere

 

Eu até disfarço de algum modo ao sorrir

Mesmo em mais nada vendo graça

Simulando viver uma normalidade ficta

Via crucis que dói mais que o Calvário

 

E assim vou eu percorrendo os dias

Ocultando dores e sem ter alegria

Estampando na minha face triste

Sorrisos tímidos, frios e amargos

 

Às vezes sinto que estou no limite

Cambaleando sobre a tênue linha

Que de algum modo nos sustenta

E evita despencar para insanidade

 

Nas noites já não encontro sono

São tantas as madrugadas em claro

Aguardo o Sol surgir no horizonte

Esperando ver essas noites terminadas

 

É debalde, na há luz intensa que sirva

E sobre mim permanece grosso manto

Que de algum modo louco e estranho

Transformou meus dias em escuras noites

 

Então a confiança que outrora existia

Sob o pálio dessa infindável noite

Cede espaço para o temor e o medo

Daí percebo, é só eu e meus demônios

 

Não tem sido fácil esse meu penar

São tantos os suplícios e fantasmas

E ao invés do purgatório ao paraíso

Fui lançado para um décimo círculo

Que nem Dante conseguiu imaginar

 

Tudo de repente ficou cinza e pálido

As flores que perfumavam o jardim

Perderam o vigor, a cor e a graça

Agora tudo que existe são espinhos

 

Meu coração vive em descompasso

A cruel certeza das incertezas futuras

Aniquilam todas minhas convicções

Restando-me apenas ilusões diárias

 

Não sei quando e se terá fim a jornada

Somente demônios me acompanham

E por mais que corra, fuja, não há jeito

Eles zombam e do meu choro tripudiam

 

Apego-me a uma vaga esperança

Que num arrebol a dor então se vá

Até que esse dia chegue, o pranto,

Segue ocultado por sorrisos frágeis

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