RIBEIRO, Redovagno Gomes.
Pilão Arcado – Bahia – outubro de 2014.
Numa viagem a um dos momentos mais tristes e insaciáveis da história
brasileira, ocorrido na segunda parte do segundo semestre de 2007, dava-se uma
luta impressionante e oposta ao Governo brasileiro na tentativa de barrar as
obras de Transposição do Rio São Francisco.
A decisão de não comer mais nada até que o Governo à época, o então
Presidente Lula recuasse do projeto das obras da Transposição do Rio São
Francisco, Dom Luiz Flávio Cappio,
surpreendeu todo o
mundo ao decidir pôr a sua vida em risco, em defesa das águas do rio mais
importante do Brasil. O São
Francisco.
Dom Luiz Flávio Cappio, emocionou a todos nós com aquela
sua decisão que durou cerca de 24 dias, e, foi encerrada ao lhes darem entrada
em um hospital à beira da morte. Enquanto isso, o Governo do Presidente Lua
insistia em não ceder às pressões do debilitado sacerdote baiano.
Revejam e sintam o clima de
paixão do Bispo de Barra, Bahia, ao anunciar o fim daqueles, sei lá, se de intragraveis
dias, ou, de belíssimos dias. Tudo aquilo
em defesa do Rio, que agora, é ele quem enfrente, não por vontade própria, mas
forçado pela agressão humana, a mais ardente greve de sede, que deve ter um fim
ainda mais chocante que o de Dom Cappio. A morte.
Depois
desses 24 dias encerro meu jejum, mas
não a minha luta que é também de vocês,
que é nossa. Precisamos ampliar o debate,
espalhar a informação verdadeira, fazer
crescer a nossa mobilização. Até derrotarmos
este projeto de morte e conquistarmos
o verdadeiro desenvolvimento para o
semiárido e o São Francisco. É
por vocês, que lutaram comigo e trilham o
mesmo caminho que encerro meu jejum. Sei
que conto com vocês e vocês contam comigo
para continuarmos nossa batalha para
que todos tenham vida e tenham vida
em abundância. (Trecho da Carta de
Dom Luiz Flávio Cappio – Folha de São Paulo,
20.12.2007.
Naquele ano, se por
um lado, a imensa maioria se solidarizava com Dom Luiz Flávio Cappio, setores o tinham como intransigente,
ao pôr a sua própria vida em risco, se opondo a um projeto que o governo o tem
como a maior obra de todos os tempos. Até setores mais conservadores da Igreja
achavam à época, um exagero por parte do Bispo, entendendo que a ação não tinha
apego e fundamento bíblico.
A atitude de Dom Luiz Cappio tem sido a principal força que se opõe à estratégia governamental de manipulação da opinião pública e sem
essa disposição moral o assunto há muito já teria sido absorvido pelo
pensamento único que o poder impõe, como vem fazendo em relação a outras
questões. A repercussão do gesto de Dom Luiz é prova de que a firmeza moral, a honestidade e a solidariedade
ainda contam, apesar da falta de ética dominante no país e, principalmente, nas
esferas dos poderes da república. O governo e a grande imprensa ignoram ou
diminuem a importância da atitude de Dom Luiz, até porque não se podem expor a uma discussão aberta quanto ao
caráter ético-político da decisão de transpor o São Francisco, devido ao risco
de que as verdadeiras motivações se tornem mais claras.
Aqueles que estão comprometidos com
os interesses antipopulares querem que a atitude do bispo apareça como arcaica,
intransigente e patética, para assim desmerecê-lo junto à opinião pública.
Trata-se de uma tática tipicamente totalitária que por si mesma já denuncia a
máscara popularesca atrás da qual se esconde um governo profundamente
comprometido com os grupos que detêm o poder econômico. A coragem cristã de Dom
Luiz, longe de ser fora de época, representa um autêntico compromisso com as
causas populares, hoje totalmente abandonadas por todos os partidos políticos.
Ela mostra a grandeza do indivíduo frente a uma sociedade que os poderes
constituídos desejam que se torne cada vez mais degradada, para assim facilitar
o trabalho de dominação. (A afirmação é de Franklin Leopoldo e Silva, professor de filosofia
da USP, em entrevista, concedida por e-mail, à IHU On-Line em 20 de janeiro de 2008).
Vamos
então a partir de um curto voo e sempre com base nas mais diversas matérias
televisivas e de jornais impressos, contar a atual situação do Rio São Francisco.
Recentemente foi amplamente divulgado pelos meios de comunicação de massa que o
Rio São Francisco acabara de secar a sua principal nascente.
O biólogo Humberto
Mello, do Aquário do Rio São Francisco, localizado no Zoológico de Belo
Horizonte, considera como um aviso o fato de a nascente do rio, na Serra da
Canastra, ter secado. “As ações preventivas não devem partir apenas dos
governos, mas de toda a sociedade. Há vários trechos do São Francisco em que é
urgente a recomposição da mata ciliar. É importante que ribeirinhos preservem a
vegetação, para evitar o assoreamento do curso fluvial”, explicou,
acrescentando que os ciclos da vida dos rios podem exigir até uma década para
que a vazão se recupere. (em.com.br – 26.09.14).
Longe
de atribuir ao governo tudo aquilo que ocorre atualmente com o Rio São
Francisco; mas é preciso que se diga que a faraônica obra de transposição das
suas águas não veio no tempo exato e precedida de um projeto de revitalização
que deveria ter ocorrido há umas quatro décadas atrás.
Digo
isso com base numa comparação bem simples. Inicio dizendo que tudo se acaba,
ainda mais se dali só retiramos e não reponhamos o suficiente para seu reabastecimento.
Falando-se
do Rio São Francisco, dele infelizmente só querem a água, não dando ao seu
firmamento seu necessário abastecimento. Que nada mais seria, senão um cuidado
especial com as suas matas ciliares, um projeto de revitalização efetivo e
capaz de impedir o despejo de lixos e erosões, além de estender todas as ações
pertinentes a todos os outros rios que banham o nosso querido Brasil.
Infelizmente
os cuidados necessários para com o Velho Chico estão em segundo plano. Assim
que isso forem repensados de outra forma, será, pois, tarde demais.
Possam
acreditar, as noticias não deixam dúvidas. A agonia já estará transformada em,
o maior velório de todos os tempos, iniciado desde 1501, ano do seu
descobrimento. Quer seja, a morte do Rio São Francisco causada pela sede.
Será
uma tragédia. Talvez aqui esteja a explicação para o novo fim do mundo, que
segundo pergaminhos será acabado por um enorme fogo. Nestas circunstâncias, por
especialistas que sejam os médicos que salvaram a vida de Dom Luiz Flávio Cappio, não
reverterão o coma do Velho Chico.
Por
este ângulo só se tem uma dúvida. Quem vai chorar pelo Rio São Francisco?
Talvez ninguém. Morreras se esticando de sede e calor sozinho e sem amigos,
pois aqueles que ele ajudou a crescer serão para ele o que representa para nós
hoje, as ossadas dos dinossauros que habitaram a terra há milhões de anos.
Parece
um enredo teatral de um desesperado homem, mas creio não ser. Trata pois, de um
filme real. A sede enfrentada pelo Rio São Francisco é preocupante e já afeta os
pulmões de toda a fauna e de todos homes e mulheres brasileiras.
Se
algo não for feito, a tragédia anunciada pelo Bispo Dom Luiz Flávio Cappio será concretizada. Não basta se
preocupar, é urgente a necessidade de uma tomada de decisão nos moldes mais
avançados possíveis, para caminhar na tentativa da salvação não só do rio, mas de
toda uma futura geração.
O
momento atual é precioso para estas discussões, porém tão pouco se debate sobre
o tema. Falo com relação ao momento eleitoral, ausente de até um programa de
governo de ambos os lados, que tenha olhares fixos para tal fim; digo, recomeço
de anunciado fim de toda a nação brasileira.