Cesar Teixeira - Pilão Arcado - Bahia
Quando o sofrimento parecia
findo
Que o paraíso estivesse logo
adiante
Na verdade abriu-se um novo
gênesis
E o décimo círculo não sabido o porvir
Tudo que era sólido e firme outrora
Foi pulverizado e caiu por terra
Que se desmancha ao beijo do mar
A ilusória alegria que eu então
trazia
Por ser construída sobre a
frágil areia
Ruiu como castelo que sucumbe à
vaga
Deixando no seu lugar amarga
tristeza
E essa tristeza que agora não me
larga
Sinto ela queimando-me por
dentro
E nesse maluco paradoxo do
sofrer
Sou o prisioneiro e também o
cárcere
Eu até disfarço de algum modo ao
sorrir
Mesmo em mais nada vendo graça
Simulando viver uma normalidade
ficta
Via crucis que dói mais que o
Calvário
E assim vou eu percorrendo os
dias
Ocultando dores e sem ter
alegria
Estampando na minha face triste
Sorrisos tímidos, frios e
amargos
Às vezes sinto que estou no
limite
Cambaleando sobre a tênue linha
Que de algum modo nos sustenta
E evita despencar para
insanidade
Nas noites já não encontro sono
São tantas as madrugadas em
claro
Aguardo o Sol surgir no
horizonte
Esperando ver essas noites
terminadas
É debalde, na há luz intensa que
sirva
E sobre mim permanece grosso
manto
Que de algum modo louco e
estranho
Transformou meus dias em escuras
noites
Então a confiança que outrora
existia
Sob o pálio dessa infindável
noite
Cede espaço para o temor e o
medo
Daí percebo, é só eu e meus
demônios
Não tem sido fácil esse meu
penar
São tantos os suplícios e
fantasmas
E ao invés do purgatório ao
paraíso
Fui lançado para um décimo
círculo
Que nem Dante conseguiu imaginar
Tudo de repente ficou cinza e
pálido
As flores que perfumavam o
jardim
Perderam o vigor, a cor e a
graça
Agora tudo que existe são
espinhos
Meu coração vive em descompasso
A cruel certeza das incertezas
futuras
Aniquilam todas minhas
convicções
Restando-me apenas ilusões
diárias
Não sei quando e se terá fim a
jornada
Somente demônios me acompanham
E por mais que corra, fuja, não
há jeito
Eles zombam e do meu choro
tripudiam
Apego-me a uma vaga esperança
Que num arrebol a dor então se
vá
Até que esse dia chegue, o
pranto,
Segue ocultado por sorrisos frágeis